sexta-feira, 11 de junho de 2010

Saudade da minha senhorinha

O tilintar das chaves eram como sininhos que anunciavam sua chegada.

Ela nunca me deixou sozinha. Nem nos bons e muito menos nos maus momentos. Desde o primeiro choro, que inaugurou a minha vida, até o último, em sua despedida, ela esteve presente. E foi o presente.

Aquelas chavezinhas que balançavam em suas mãos diziam, ainda em boa distância, que ela estava chegando. Então um conforto inexplicável cobria meu coração. Ela sempre vinha na hora certa.

Porque não havia pessoa mais confiável, mais leal, mais correta, mais íntegra do que ela.

Tão forte, independente, determinada. Nunca conheci alguém de propósitos tão firmes. Quem via essa minha senhorinha, tão pequenina, se não a conhecesse, jamais conseguiria imaginar o gigantismo de sua alma.

Guerreira, gritei em seus ouvidos. Repeti incansavelmente durante esses últimos meses a ela: guerreira!

Acho que ela sabia de toda a minha admiração, mas eu queria que ela gravasse bem em sua mente, porque esta já não segurava muita informação. Esta, fez perder-se a minha senhorinha.

Ela amava as flores, as árvores, os passarinhos... Misturava-se à terra como se fosse um mar, e por meio daquelas mãos grandes tudo brotava. Amava o trabalho, o dom, o talento, o capricho, a capacidade de aprender e de ser útil. E fazia bonito, como fazia! Amava a família, era a matriarca, e nos defendia como se fôssemos sagrados. Pra ela nós somos. Assim como para nós está eternizada pela bênção que foi e será em nossa história.

Nasceu no tempo errado a minha senhorinha. Ela era autônoma demais para uma época em que a mulher era apenas pra servi e obedecer. Sua sede de liberdade transbordava no brilho dos olhos, no afiado da língua, na força dos braços que lutavam com força contra tudo que a impedisse. Estava sempre à frente de seu tempo.

Fez acontecer. Não há espaço suficiente neste mundo onde caiba os registros de tudo o que ela realizou. É a nossa heroína. Que orgulho, que admiração!

Lutou contra tudo o que ameaçava o nosso futuro num tempo em que poucas se atreviam. Mas ela tinha propósitos. E tinha certezas, e tinha planos e tinha sonhos de uma vida melhor para os seus.

De fato, ela nos garantiu uma vida melhor, um espírito mais aberto, a coragem necessária para continuar essa trajetória sem fim.

Nós. Somos nós os herdeiros mais ricos desse universo. A senhorinha nos deixou uma fortuna inestimável. Uma fortaleza. Uma história de luta e de vitórias, porque atrás disso tudo, há a essência de quem nunca desistiu.

 
Foi embora, mas só daqui daTerra, a nossa amada avó Delfina. Agora, ela trabalha, eternamente incansável, numa dimensão melhor. Que esteja bem, amada avó... faremos de tudo para merecer a mesma morada que a senhora quando a nossa hora chegar. E que saudade até lá!

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