sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Feliz Natal! Feliz 2012!

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quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Meu garoto gente boa


Vi e eu: farinha do mesmo saco
Menino gente boa
Victor, o meu garoto gente boa, está completando 14 anos hoje. Olho pra ele e vejo tanta coisa que deixa repleto meu coração! Mais do que sobrinho, ele é um pedaço da minha alma. Não gosto mais dele do que dos outros sobrinhos, meu amor por cada um deles é igualmente gigantesco. Mas com o Vi me identifico. Somos tão parecidos! Somos amigos, cúmplices, companheiros de verdade. E conforme o assisto crescer, mais me reconheço nele. Os motivos que o levam à exaltação, à revolta, à diversão, ao tédio, à curiosidade, enfim, todos os impulsos que o guiam são facilmente compreensíveis pra mim. Coloco-me no lugar dele com tanto conforto que sinto-me ali dentro daquele espírito inquieto e, desde muito cedo, bem resolvido. É uma aceitação automática, uma sintonia bendita. Somos muito farinha do mesmo saco.

Em campeonato de natação
Eu tinha apenas 16 anos quando soube que ele estava a caminho. Que festa! Ser tia era uma experiência não vivida até então e eu estava louca para experimentá-la. Fui comprando brinquedos desde os primeiros meses de gestação, o reconhecendo em cada detalhe que fosse belo. Eu o curti intensamente desde sempre. E quando soube que, como eu, seria sagitariano, senti um gostinho bobo de vitória. Era o meu menino mesmo que estava chegando.

Vi apaixonado: ele e a namorada Niágara
O tempo está passando tão rápido! Lembro das perninhas curtas e gorduchas, da fantasia de palhacinho em seu primeiro matinê, do esmero nas noites em claro confeccionando os enfeites para suas festinhas de aniversário personalizadas. Graças a ele, desde o começo senti o gosto bom de ser tia de uma forma plena. E sinto cada vez mais. Com ele converso de igual pra igual, sem qualquer estranhamento. Perto dele sinto paz.

Nosso campeão
Lembro-me que, ainda pequenino, olhava pra ele e almejava um futuro em que ouviria um “tia Lili” falado com um vozeirão bem grosso, como se isso fosse demorar tanto pra acontecer... E agora estou diante desse rapagão de quase 1,80m, com a mesma voz grossa das minhas projeções, lindo, inteligente, cheio de dons e muito, muito gente boa. Dá um orgulho tão grande dele!

Ele sabe que é lindo
Eu poderia citar milhares de méritos, inúmeros talentos que justificam esse orgulho, mas a grande verdade é que meu maior gosto é olhar para o Vi e ver a pessoa que ele é, simplesmente. E eu acho que nunca disse isso a ele. A gente enxerga as coisas mais importantes da vida, mas na roda viva, esquece de declará-las, como se estivessem implícitas.

Lindo 2
Talvez lhe escreva uma carta. Agora que está grande, posso exercitar com ele mais essa minha pieguice. Ou lhe peça que entre nesse blog e descubra. Ou lhe abrace forte e demoradamente, com direito aos cafunés que ele tanto adora, até que compreenda que certas coisas são melhores quando sentidas. Ele está se tornando mestre nisso. Ou, então, eu continue apenas curtindo essa coisa gostosa que é ser tia nos dias de hoje, quando mais parecemos irmãos do que qualquer outra coisa: sem cerimônias, frescuras e exigências antiquadas que condenavam essa relação tão mágica à impessoalidade.

Sempre por perto
Só desejo, de todo coração, que ele se aprimore nessa arte de ser tão ele, nada mais. Isso já me deixa segura de muitas coisas, já me livra dos grandes medos que o futuro impõe às famílias. O Vi é um garoto muito legal! É divertido, possui um senso de humor incrível, porém mesclado com uma sensibilidade que ele está aprendendo a acertar na medida; cheio de manias e particularidades, de uma segurança íntima que dá gosto presenciar e uma personalidade forte, porém afável. Ele é deliciosamente carismático. Apaixonante.

Bebê de titia
Meu menino adorado é alguém que, no barulho ou no silêncio, é sempre gostoso ter por perto. E que me ensina a amar de um jeito que, sem ele, eu jamais aprenderia.


quinta-feira, 4 de agosto de 2011

O primeiro aniversário aos 43

Como são as coisas, não é mesmo? Enquanto algumas pessoas procuram diferentes formas de festejar a vida, outras, por incrível que pareça, evitam ao máximo essa celebração. Tenho um amigo que até ontem, evitou – mas só até ontem.

Meu amigo Alexandre, mais conhecido como B1, sempre me disse que não comemorava datas como aniversário, Dia das Mães, dos Namorados e outras mais, pois “é tudo comércio”. Bom, que é invenção do capitalismo, a gente sabe, mas o que tem de mal pegar carona nisso pra dar à vida um pouco mais de diversão? É só unir o útil ao agradável, ué.

Sempre achei que esse papo do B1 era pra esconder a vergonha que ele sente ao ser o centro das atenções. Realmente, ficar atrás de um bolo com um monte de gente em volta cantando e batendo palmas  só pra você não é uma das situações mais confortáveis da vida, mas o que vale mesmo é o que tudo aquilo significa: que a cada nova primavera nossa, há pessoas dispostas a comemorar a nossa existência. E mais do que isso: que é bom estar vivo, colecionando dias que se tornam anos, que se tornam experiência, que se torna, enfim, a nossa história. Única e intransferível.

Venho tentando convencer o B1 disso desde que o conheci, e pra falar a verdade, é tão difícil que tinha até desistido. Mas este ano tem algo especial no ar. Este ano, o B1 está passando por muitas transformações – e com ele, eu e outros amigos que também o adoram e que o acompanham nesse processo todo, afinal, ser amigo é embarcar junto nessa viagem louca que é existir, né.

Ontem, nosso querido B1 completou 43 anos. Mais do que fazer aniversário, considero que essa data foi especial porque marcou exatamente um momento decisivo pra ele, em vários sentidos. E como não deixamos passar nada, foi questão de honra levá-lo a comemorar, sim, o reinício do seu ano-novo particular. E há muito o que ser comemorado, ele sabe...

Nossa reunião foi simples e completamente improvisada, mas foi a chance perfeita para fazermos o nosso amigo sentir na pele o gosto bom de ser festejado. E festejamos mesmo. Todos que ali estavam, carregavam a mesma motivação: admirar o B1. Com bolinho de supermercado, velinha faiscante, chapeuzinho colorido e até língua de sogra, parabéns pra você... com um porém: no meio da praça de alimentação de um shopping lotado. Sei que ele ficou envergonhado, sem jeito, mas sei também que lá dentro do coração dele, sentiu algo que não tinha, ainda, experimentado. E isso, de alguma forma, deve tê-lo alegrado.

Eu realmente espero que sim, que ele tenha sentido algo novo e bom. Porque tudo o que queríamos ontem, era afagá-lo na alma, homenageá-lo por existir e fazer parte da nossa história. E por nos deixar fazer parte da história dele também e nos ensinar tanto. E essa nossa homenagem não se resume apenas a um dia, mas a todos, cada um declarado – ou não – de uma forma diferente.

O importante é ele entender o sentido das datas. Porque o sentido é a gente que cria, e nesse caso, achamos um jeito de mostrar que estamos junto com ele nesse e em qualquer outro recomeço. Que esse foi apenas o primeiro dia de uma série de emoções que fazem muito bem sentir. E principalmente, que foi só o primeiro aniversário a partir de agora, desses 43 anos.

Felicidade sem fim ao nosso B1!
Aí estão as fotos... as provas de todos os crimes que cometemos ontem contra o nosso amigo...ahahahaha.



terça-feira, 5 de abril de 2011

Amor. História. Eternidade.



Meus dias têm sido de orações. Rezas íntimas, particulares, em minha alma. Rezas mudas, ocultas. Daqui de fora não se vê e nem se ouve nada, nem sequer se nota. É por dentro. Na confusão dos meus sentidos, no mar de dúvidas sobre a vida e a existência, nas súplicas que nascem disso. Mesmo flutuando sobre a Terra e alguma dessas dimensões misteriosas, mesmo sem sentir-me completamente de um lado ou de outro, continuo orando internamente. Por mim, pela vida que segue frenética e da qual não tenho o menor controle, pelas pessoas que amo – principalmente por elas. Por quem está aqui comigo, nessa mesma aflição de incertezas, nesse medo da solidão e na eterna busca que nos divide entre desejos mundanos e intuitos maiores. E rezo, principalmente, pelos pedaços de mim que se desprenderam e agora habitam outras dimensões. Esses que povoam meu coração de saudade e mesmo sem estarem mais ao alcance de minhas limitadas possibilidades humanas, ainda inundam de esperança minha alma. Pessoas que, ao serem chamadas pelo outro lado, levaram junto deles boa parte do que sou e dos recursos que me davam mais sustentação. Sem elas aqui por perto fiquei mais desabitada, deslocada em minha casa, em meu próprio corpo. 

Mas o legado deixado por elas é imenso e forte demais para que eu desanime nessa caminhada. Jamais poderia ignorá-lo em nome do meu sofrimento. Essas pessoas que me prepararam para a vida, me ensinaram com inestimáveis exemplos a ser forte e a superar até mesmo os maiores desafios, as maiores tristezas, mesmo faltando pedaços importantes de mim. Elas me fizeram valente e feliz, e essa fortaleza habita minha alma machucada pela saudade e pela solidão, porém ainda disposta a honrá-los. Elas plantaram em mim o amor e ele é mais poderoso do que o tempo, do que a morte. É o que nos liga por toda a eternidade, onde quer que estejamos. E é essa certeza que me mantém em pé, honrando esse legado deixado por meus amados de herança: a mais valiosa que poderiam ter deixado.

Isso tudo constrói a minha história. Um dia irei reencontrá-los. Mas até lá há muito o que fazer para alcançá-los, para estar digna de ocupar o mesmo lar que eles, pois não tenho dúvida de que lhes foi reservado um bom lugar. Então eu sigo, redescobrindo minha força dia a dia para continuar escrevendo essa história, que é minha e deles, o que torna ainda maior minha responsabilidade. É a junção e a soma de todos esses seres que vivem e que viveram comigo. Vou me construindo como pessoa, crescendo como espírito, certa de que abandonada não fui e nunca serei. Nem por Deus, nem pelos Anjos do céu, nem pelos que me restam, e muito menos por aqueles que já estavam aqui quando cheguei e que sempre estarão à minha frente no tempo e na sabedoria. 

Graças a tudo o que acredito, carrego a certeza de eternidade. A minha, claro, como ser em constante evolução, e a de todos que amo, como seres de luz que a vida me deu de presente para que consiga cumprir essa missão que é se fazer existir.

É essa a oração de minha alma, que acontece em silêncio, porém ininterruptamente. É a minha fé na continuidade da vida e na imortalidade do espírito que me ajuda a seguir, mesmo dentro desta casa vazia e tendo de despedir-me com tanta freqüência de quem me é fundamental.

Crer é o que há de mais valioso nessa arte de sobreviver. E se eu possuo esse tesouro agora, é graças à família que tenho e nos propósitos de Deus para a nossa alma. E sou grata a esse gigantismo celestial que nos permite recomeçar tantas e quantas vezes outros ciclos se fechem.

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Feliz Natal! Feliz Ano-Novo!

Esse é o meu cartão de Natal a todos que me lêem nesse cantinho tão especial pra mim.
Obrigada!

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quarta-feira, 15 de setembro de 2010

A minha melhor amiga


Hoje, 15 de setembro, é aniversário da Telma, minha melhor amiga. Provavelmente ela deve estar pensando que eu esqueci – porque eu já esqueci o aniversário dela algumas vezes, o que é perdoável, já que ela também já esqueceu o meu.

Conheci a Tel no prézinho, tínhamos seis anos de idade. Hoje, a Tel completa 29 (é Tetéia, lembro-me da sua célebre frase: “até os 25 é bonitinho Aliz, depois a coisa começa a dar medo”). E olha nós aqui, vendo os trintinha bater à nossa porta. Juntas!

Pensei em fazer alguma surpresa pra essa amiga de uma vida inteira, de tantas confidências e de lealdade inabalável. Mas o que? Ela mora tão longe de mim! Melhor mesmo é registrar pra quem quiser ler a importância que essa eterna menina tem na minha vida, seu valor inestimável para mim.

Já escrevi poemas e versinhos para a Telma. Já mandei cartas melosas e cartas engraçadas. Vivo dizendo a ela que a amo demais e eternamente. Mas há detalhes que a gente não fica dizendo a toda hora, mas que são importantes, vez ou outra, declarar. Já que a vida é feita de um dia após o outro, por que não lembrar a minha melhor amiga do quanto a admiro nos mínimos detalhes e do quanto lhe sou grata por estar nessa comigo?

Quando estou perto da Tel, volto a ser criança. E nós duas sempre adoramos ser crianças. Mesmo quando mocinhas, já beijando na boca e tudo, fazíamos questão de nutrir uma certa infantilidade, mesmo que algumas pessoas nos achassem bobas, mesmo que as convenções da época não permitissem, afinal, a adolescência é uma fase da vida muito complicada e cheia de regrinhas idiotas – que nós duas fazíamos questão de quebrar. Éramos diferentes mesmo e sempre tivemos muito orgulho disso.

Sempre tivemos nossos próprios códigos e até hoje nos entendemos bem por meio deles. Escrevemos e desenhamos passagens cômicas da nossa vida, rindo de nós mesmas, das nossas deficiências e tristezas. Operávamos borrachas e, na 8ª série, ralamos desde o primeiro dia de aula pra garantir um baile de formatura como tanto sonhávamos. Íamos a discotecas e pisávamos nos pés dos meninos que nos interessavam para puxar uma conversa. E ríamos demais.

Também choramos muitas vezes. Perdas, ganhos, situações... a gente fala, chora e ri com uma naturalidade espantosa, e foi isso tudo que me fez entender como é que funciona essa coisa mágica chamada amizade. Amizade mesmo, dessas que nascem e morrem com a gente, e que levamos, vida após vida, onde quer que estejamos. A Tel é isso e muito mais pra mim.

Fui madrinha de casamento da Telma e sou madrinha da filha dela, minha princesinha Giulia. Da última vez que a Telma esteve em minha casa, simplesmente passamos uma madrugada inteira de sexta conversando na cama, até o sono nos vencer, já com o dia amanhecendo. E como se não bastasse, passamos o sábado juntas – dia e noite – e mais o domingo. E o assunto nunca acaba. Dividimos saudades, relembramos passagens, sonhamos com o futuro, reavaliamos o que nos tornamos hoje. E por mais que tenhamos passado por tantas transformações, em momento algum eu estranhei a Telma e sei que ela também nunca me estranhou. Juntas, somos aquelas meninas de sempre e isso basta.

Pra ela eu posso contar tudo como realmente é, sem ressalvas, sem vergonhas, sem dúvidas. Ela me vê tão completamente e com tanta generosidade, que exerce com maestria a arte de amar e compreender. E olha que nós nem concordamos em tudo, há certos aspectos que somos completamente diferentes. Mas até nisso a Telma é lição pra mim: é a prova de que amigo não é aquele que diz apenas o que queremos ouvir, mas aquele que, mesmo discordando, se coloca no nosso lugar e nos aceita. A Telma me aceita da forma mais humana que eu já pude presenciar.

Ah Tel, se você soubesse quantas e quantas vezes já me salvou... Mesmo estando longe, mesmo ausente por longos períodos, a certeza de que você sempre estará presente pra mim me conforta e me acalma em tantos momentos! A liberdade de ser o que sou, da forma como estiver – de bom ou de mau humor, triste ou feliz, rabugenta ou extrovertida, conservadora ou moderninha, certa ou errada – e ainda assim saber que você gosta de mim e que vai me dizer o que estiver pensando na mesma hora me enche de paz e sossego. Afinal, você é a minha melhor amiga!

Não existe dia em que a conversa não flua entre nós, em que a disposição não exista, porque mesmo sem assunto e sem disposição, podemos ficar juntas sem que a presença incomode de forma alguma. Não existe tema que não possa ser abordado, expressão que não possa ser usada, experiência que não possa ser contada, pecado que não possa ser confessado, segredo que não possa ser revelado.

E assim a gente vai experimentando a vida juntas, as vezes sofrendo, as vezes vencendo, mas sempre sempre sempre dividindo, aprendendo unidas. E como é bom pensar na vida ao seu lado, contar com a sua presença permanente!

Hoje é seu aniversário, mas eu quero que saiba que eu comemoro a sua chegada nesta Terra todos os dias, em orações, em pensamentos, em saudade. Eu agradeço a Deus por sua existência, peço pela sua saúde e bem-estar de forma ininterrupta. Porque além de ser assim, do jeitinho que só você sabe ser, é a minha melhor amiga e sem você, nem eu seria eu mesma. Não dá nem pra imaginar essa caminhada sem você, Tel!

Parabéns por seu dia! Seja feliz, feliz demais, o máximo que puder, porque não há nada mais gratificante do que vê-la vencendo e alcançando seus objetivos, se realizando e sendo essa mulher linda e forte que nasceu pra ser. E eu nem vou pedir que continue sendo minha melhor amiga, porque isso já é uma certeza: você sempre será essa alma gêmea que a vida me deu de presente pra tornar meus dias mais gloriosos, pra fazer essa experiência humana e espiritual valer a pena. Só me resta pedir por sua saúde, paz, amor, respeito, sonhos realizados, tudo isso que eu te desejo diariamente e que até seria desnecessário, pois até isso você sabe décor. E acredita. Essa confiança que nos une é que torna eterna e abençoada a nossa amizade.

Obrigada Tel, por tudo!
Não estamos perto nesse seu dia, mas estamos juntas, independentemente de datas e localizações, o tempo todo. E eu estou em festa por você!

Te amo!
Aliz

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Dois anos


Sigo contabilizando o tempo, colecionando as datas.

Nem tudo tem sido vago e sem sentido, mas quando eu penso nesses dois anos, só consigo enxergar o vazio.

Durante todo esse período, que parece tanto na saudade e tão curto na dor, tenho escalado com coragem o buraco que ficou, e tenho seguido da forma mais serena que eu posso. Mas o dom da serenidade não é meu, sou reles aprendiz. Um dia faço a lição direitinho, mas no outro esqueço, erro tudo. E assim vou juntando os dias e dias e dias e dias...

O que os últimos pesadelos estão tentando me dizer? Será que está tudo bem com você? Tenho te dado muitos desgostos? Enquanto eu preciso mergulhar na memória pra poder te ver e dormir pra poder te sentir novamente, você tem uma visão tão ampla de mim – bem mais ampla do que eu gostaria.

Eu nem ligo pra hoje, essa data em que uma saudade irremediável completa dois anos. Ligo, isso sim, para cada um desses dias que foram passando e deram origem a essa data. Ligo para cada segundo em que eu precisei da sua presença e me frustrei com a falta de opções. Ligo é para todas as vezes em que pego o celular, num desespero inconsciente, pra falar com você, pra tirar dúvidas, pra sentir proteção. Há dias em que a minha condição atual se apaga completamente da memória e eu realmente acredito que nada disso aconteceu.

Um dia, alguém me falou sobre perdas definitivas. Eu sempre soube que era definitiva, mas doeu tanto ouvir essa constatação! Pra isso não há remédio, não há solução, socorro, alternativa.

E eu continuo me preocupando tanto com você! É tão ruim não ter certeza de onde, como está, se precisa que eu faça algo por você ou se esse meu amor desmedido te causa alguma dor. É ele quem me faz brigar com a vida as vezes, a me revoltar com o ciclo natural que jamais aceitarei.

Há dois anos espero você voltar, acredita? Há dois anos finjo que isso vai passar.

Mas você deixou a poesia, o romance. Nós duas, de tão amigas, de tão unidas, de tão cúmplices, de tão feitas uma para a outra... de tão mãe e filha, construímos uma história de amor que nem a vida e seu ranço podem apagar. E foi isso que me ajudou a ficar em pé, nesses longos dois anos: o perfume permanente da fantasia que só nós duas, juntas, criamos. E eu sou movida à fantasia, você sabe.

Só que a minha poesia nunca mais foi a mesma sem você por perto. Tive de crescer, e crescer as vezes é tão cruel! Nessa falta de versos, construo orações, intermináveis orações: por mim, por você, por todos os nossos. Pela eternidade da alma, em nome da esperança de um dia, em alguma dimensão, calar esse choro do meu coração carente de você, deitada no seu colo de mãe.


sexta-feira, 11 de junho de 2010

Saudade da minha senhorinha

O tilintar das chaves eram como sininhos que anunciavam sua chegada.

Ela nunca me deixou sozinha. Nem nos bons e muito menos nos maus momentos. Desde o primeiro choro, que inaugurou a minha vida, até o último, em sua despedida, ela esteve presente. E foi o presente.

Aquelas chavezinhas que balançavam em suas mãos diziam, ainda em boa distância, que ela estava chegando. Então um conforto inexplicável cobria meu coração. Ela sempre vinha na hora certa.

Porque não havia pessoa mais confiável, mais leal, mais correta, mais íntegra do que ela.

Tão forte, independente, determinada. Nunca conheci alguém de propósitos tão firmes. Quem via essa minha senhorinha, tão pequenina, se não a conhecesse, jamais conseguiria imaginar o gigantismo de sua alma.

Guerreira, gritei em seus ouvidos. Repeti incansavelmente durante esses últimos meses a ela: guerreira!

Acho que ela sabia de toda a minha admiração, mas eu queria que ela gravasse bem em sua mente, porque esta já não segurava muita informação. Esta, fez perder-se a minha senhorinha.

Ela amava as flores, as árvores, os passarinhos... Misturava-se à terra como se fosse um mar, e por meio daquelas mãos grandes tudo brotava. Amava o trabalho, o dom, o talento, o capricho, a capacidade de aprender e de ser útil. E fazia bonito, como fazia! Amava a família, era a matriarca, e nos defendia como se fôssemos sagrados. Pra ela nós somos. Assim como para nós está eternizada pela bênção que foi e será em nossa história.

Nasceu no tempo errado a minha senhorinha. Ela era autônoma demais para uma época em que a mulher era apenas pra servi e obedecer. Sua sede de liberdade transbordava no brilho dos olhos, no afiado da língua, na força dos braços que lutavam com força contra tudo que a impedisse. Estava sempre à frente de seu tempo.

Fez acontecer. Não há espaço suficiente neste mundo onde caiba os registros de tudo o que ela realizou. É a nossa heroína. Que orgulho, que admiração!

Lutou contra tudo o que ameaçava o nosso futuro num tempo em que poucas se atreviam. Mas ela tinha propósitos. E tinha certezas, e tinha planos e tinha sonhos de uma vida melhor para os seus.

De fato, ela nos garantiu uma vida melhor, um espírito mais aberto, a coragem necessária para continuar essa trajetória sem fim.

Nós. Somos nós os herdeiros mais ricos desse universo. A senhorinha nos deixou uma fortuna inestimável. Uma fortaleza. Uma história de luta e de vitórias, porque atrás disso tudo, há a essência de quem nunca desistiu.

 
Foi embora, mas só daqui daTerra, a nossa amada avó Delfina. Agora, ela trabalha, eternamente incansável, numa dimensão melhor. Que esteja bem, amada avó... faremos de tudo para merecer a mesma morada que a senhora quando a nossa hora chegar. E que saudade até lá!

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Vitória

Chegou a menininha.

Sainha, lacinho, trancinha.

E já veio apressadinha.

Bati tantos papos com ela ainda na barriga!

E agora, de frente à princesa, cala-me a danadinha.

Terei de recomeçar, relembrar como é mesmo ser menina, mocinha, faceira.

Meninas preocupam mais!

Agora que eu já estava craque sobre carrinhos, super heróis e jogos de vídeo game, chega quem faltava pra me ocupar de outro jeito.

É a Vitória! Pintando tudo à minha volta de cor-de-rosa, lilás, enchendo tudo com fitinhas, babados e outras frescurinhas.

Finalmente veio a menina que eu ansiava enfeitar.

E assim eu recomeço a ser tia, só que agora numa experiência totalmente nova.

Fico engasgada com a sensação. Não há como explicar. Você espera tanto pela chegada, e quando ela chega, nem consegue dizer nada. Olha, olha, tenta entender... como se pode amar quem acabou de chegar?

Mas essas crianças renovam meu próprio prazo de validade. Enquanto vejo aquele que chegou primeiro crescendo rápido e alto como um foguete, e me assusto com as histórias que descubro sobre beijos e namoradinhas, vejo a vida começando de outro lado, com tudo pela frente ainda.

Bem-vinda, Vitória! Há muito que já é amada. Há muito que te espero.

Este colo, estes afagos e este coração molenga são seus. Seus e dos outros, que com certeza, irão pegar muito no seu pé... a primeira menina, talvez a única, quem pode saber?

À sua alma eu desejo sede de vida! Inteligência, saúde e amor, sem dúvida. Mas também o gosto pela paz e a opção pela felicidade, porque isso é tão pessoal e ninguém sabe direito como usar.

Espero que você saiba, porque ninguém chega a este mundo por acaso. Que seja linda a sua vida, meu amor.

terça-feira, 23 de março de 2010

Sobrinhos

Hoje, um amigo comentou sobre a chegada de seu primeiro sobrinho. Foi inevitável! Na hora fui pêga por uma onda de calor que invadiu meu coração ao pensar nos meus meninos, esses pedacinhos de gente que entram na nossa vida de repente, as vezes no meio da adolescência, as vezes no auge da idade adulta, e remexem todas as nossas coisas - por dentro e por fora. Serzinhos feitos de pedaços nossos indiretamente; tem gente que nem se dá tão bem assim com o irmão ou a irmã, mas ama loucamento os sobrinhos.

Não é o meu caso. Olho para os meus meninos como pedacinhos dos meus irmãos que eu posso ver crescer e acontecer com mais detalhes, mais de perto. Irmão é um desafio, a gente cresce junto, geralmente numa competição besta, que nos impede de enxergar os detalhes de seus acontecimentos. Só mais tarde, quando os nossos irmãos nos dão esses presentes chamados sobrinhos é que a gente vai reparar na continuação que eles representam daqueles que vieram do mesmo lugar que nós, que foram criados e educados do mesmo jeito, e que por toda a vida serão nossos pares sanguíneos e parte indistinta da nossa história.

Fiz um resumo a esse amigo sobre a delícia que é ser tia e senti meu coração encher-se de alegria. Hoje, tia é um ser que se assemelha ao amigo, ao irmão. Não existe mais aquela formalidade de antes que impunha uma distância enorme entre tios e sobrinhos. Hoje eles crescem junto com a gente, tiram sarro da nossa cara, controlam a nossa vida, mexem nas nossas coisas, pedem tudo, nos xingam e nos contestam, contam segredos, fuçam a nossa vida, enfim, abusam da intimidade de uma forma simplesmente apaixonante. Eles destruíram as barreiras que institucionalizavam o ser “tio”, transformando-o no “cara tio”.

Enquanto eu escrevia sobre a tia que eles me deixam ser, meus olhos se encheram de lágrimas. Como explicar um amor assim, se eles nem saíram de mim? Como entender o intuito de Deus em trazer essa criançada pra nossa vida desse jeito?

Perto deles eu ultrapasso todos os limites do tempo. As vezes eles me fazem de tia mesmo, mas as vezes me fazem de amiga – criança, adolescente, anciã... Um dia eu pego no pé deles sobre as coisas da vida, sobre as responsabilidades, sobre não deixar a bicicleta na chuva. No outro, estou com eles brincando debaixo dessa mesma chuva e os ensinando a aprontar algum mal feito, como pintar as unhas dos pais deles de vermelho quando estiverem dormindo na rede domingo à tarde.

Só sei que sou invadida por sentimentos incríveis, plenos, completos, quando penso neles, quando os vejo chegando, quando ouço a voz me chamando, quando atendo o celular e logo adivinho que é pra pedir alguma coisa: bicicleta emprestada, joystick do vídeo game e sei lá mais o que. E vê-los me superando é tranquilamente prazeroso. Eles passam a gente no tamanho, na atualidade, na inteligência, na criatividade... na longevidade, graças a Deus!

Eu tenho três meninos assim na minha vida, três príncipes, e aguardo ansiosa pela primeira menina, que já já está chegando por aí, pra me deixar ainda mais babona e deliciosamente apaixonada. Cada um com seus traços particulares, suas personalidades únicas e seus instintos tão diferentes um do outro, me encantam completamente.

Meus sobrinhos são luzes que iluminam cada dia mais o meu caminho. Espero que eles saibam disso.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Por segundos, minha Delfina de novo



Olhou pra mim com os olhos molhados, num instante de sensatez ímpar – que há tanto eu não via – e disse, com voz embargada e até um visível desconcerto: “eu esqueço tudo, esqueço tudo...”. E silenciou.

Naqueles poucos segundos eu a vi como antes, quando você ainda era você. Minutos depois quebrou o silêncio com os mesmos delírios, os mesmos enganos que te calam a consciência mais e mais e te despertam a ira, a irritação, a desconfiança. E eu imersa no susto e na surpresa de vê-la novamente, te olhava o rosto com uma emoção muda. Que saudade! Fazia tanto tempo que eu não a via!

Embora frágil, ferida e envergonhada da própria condição, essa mesma que lhe deixa sem suas principais defesas, você ressurgiu daí de dentro e me deu um sinal de que ainda está entre nós. Sim, perdida em si mesma, mergulhada na covardia mental que chamam Mal de Alzheimer, acorrentada em algum canto da sua alma que se petrifica dia a dia. Mesmo assim, ainda conseguiu vir e me trazer esse sinal.

Os dias ao seu lado, na inútil tentativa de cuidar-te, me convencem de que não há doença pior, enfermidade mais cruel. Esse alemão assustador faz a gente perder as pessoas amadas em vida, lentamente, inexplicavelmente.

E conforme teu corpo baixinho vai perdendo massa, teus membros vão perdendo a força e a sensibilidade e tua mente vai perdendo as minhas, as nossas referências, eu vou perdendo a fé de que isso é reversível. Ora, não é. Estou te perdendo em vida, sim, enquanto você perde a afinidade que ainda lhe resta por mim, por todos nós. Até nisso essa doença interfere. Adeus confiança, lealdade, afinidade, amor... Mas nunca o meu amor!

O amor que eu sempre disputei com os demais: “Vó, de quem você gosta mais?”.

Justo o seu amor que sempre foi imenso, desmedido, leal. Justo você, que nunca deu descanso para a sua mente, que sempre foi à frente do seu tempo, que vendia saúde, inteligência, energia! Justo eu, que há tão pouco tempo tive uma perda tão grande, agora assisto você se esquecer de mim debaixo do meu teto, na frente do meu coração. Justo nós, que estamos aprendendo ainda a sermos família. Justo agora... que poderia fazer mais por você, te dar o que não teve.

Sua frase curta me disse tanta coisa, você não tem ideia! Disse “socorro”, “desculpa”, “estou tentando”, “estou aqui”, “não desista de mim”, “TE AMO”. E quando eu fui abrir a boca para te responder, você já tinha ido embora de novo, e eu dialoguei com a sua máscara, com o seu corpo – e nem ele parece o mesmo que tanto me cuidou, me abraçou e me levou a tantos lugares.

E cada vez que você se revolta com a própria falta de capacidades , de liberdade, de autonomia, mais meu coração fica partido e revoltado junto com você. O pior é que eu nem posso dizer isso – minha função é fingir que está tudo bem e que tudo dará certo. Eu sinto que quanto mais dependente você fica, mais presa à nossa ajuda e disponibilidade, mais cansada de viver você se mostra. Porque tem coisas que o Alzheimer não consegue apagar, e a sede de independência e de liberdade é uma delas. Mas de que adianta? Esse se torna mais um instrumento de tortura contra suas vítimas.

Ah, minha Delfina... minha avó tão amada! Você ainda é minha fortaleza, e o seu legado já foi eternizado, fique tranqüila. Não consigo mais enxergar seu corpo de antes, sua presença, seu olhar, mas consigo lembrar de tudo o que nos ensinou com exemplos mais vivos do que nunca. E consigo resgatar seus olhos molhados daquele dia, quando ressurgiu, pra me garantir que não nos deixou por completo. E nunca deixará. Aqui, comigo, está imortalizada.

sábado, 2 de janeiro de 2010

Uma carta pra você




Acho que hoje, o que eu mais preciso pra salvar esse finzinho de dia, de ano, é escrever uma carta pra você. Eu ainda não sei sobre o conteúdo. Tenho tanto a te dizer, no entanto, são sentimentos profundos demais, raramente consigo transformá-los em palavras. Deixo meus dedos guiarem meus sentidos então, porque eu só preciso escrever essa carta pra você.

Por que uma carta? Eu poderia falar com você, tagarelar sem parar, como sempre faço. Mas talvez uma carta... talvez esta carta consiga dizer mais do que eu consegui até agora. É só uma tentativa de estabelecer um contato mais forte, vitalício, algo eterno com você que é o grande amor da minha vida. Você, que foi braço em incontáveis abraços, inestimáveis carinhos; que foi boca, em eternas lições, em fartos beijos sem preconceito, só amor; que foi corpo quente nos invernos, escudo nos perigos, força em todos os exemplos; que foi olho pra olhar dentro de mim, pra chorar minhas vitórias, pra brilhar orgulho todos os dias, fosse o que fosse, pra indicar a melhor direção; foi voz e riso diariamente, nas partilhas nossas em forma de conversas, brigas, brincadeiras, curiosidades, nas nossas fantasias que tanto alimentaram a magia que foi a nossa vida.

Ora! Você foi tanto na minha vida, como conseguir resumir este tudo pra caber nesse papel? Você me concebeu para este mundo, mas antes disso me escolheu para dar um amor que até hoje eu não identifiquei em lugar nenhum. Você me tornou apta para a vida, me aceitou tão completamente, me admirou nos erros e nos acertos, porque sabia, sempre soube, o que estava fazendo. Foi minha amiga, companheira, alma gêmea de todos os segundos. E hoje, o que me resta? Essa carta e esse turbilhão de emoções que se acumulam dentro de mim, dia a dia, sufocadas, famintas, perdidas.

Daqui de baixo, sei que minhas tagarelices não passam de monólogos descabidos. Mas eu sei que não falo sozinha, que você recebe e responde cada palavra que eu envio pra você. Como é difícil! Não paro pra pensar muito no quanto essa nova realidade mudou a minha vida pra pior, porque senão eu me convenço de verdade que a vida é uma enganação, e você não me criou pra isso. Mas como é difícil viver sem você!

Eu sei, eu sei... não estou sozinha. Você recebe cada palavra e responde, e eu tenho mesmo o poder de te sentir. Mas viver aqui nesse mundo complica um pouco a manutenção de certos dons, de certas crenças. Eu sempre vou chorar, quietinha, sozinha, a sua partida, o seu vôo pra longe de mim. Eu não queria conversar por monólogos, não queria manter-me unida só dessa forma – pelo coração e pela alma – pelas transmissões de pensamentos, pelas lembranças, os porta-retratos, as lições que você me deixou e que são tantas. Eu queria que a minha vida continuasse, de verdade, consistente, emocionante, intensa, mas isso só era possível de um jeito. Do jeito que era antes.

Mas eu vou mudar o rumo da conversa agora. Não quero te enviar uma carta de lamentações, ela já vai encharcada de lágrimas e isso basta, você não merece a tristeza. Você foi a luz de tantas vidas! Foi alegria pura e cristalina onde não havia qualquer condição para isso. Você era a parte mais viva de mim, mais brilhante, mais sensível. Hoje, eu estou tão confusa, solta aqui nesse mundo sem nexo!

O que eu faço, mãe? De que serve um lago sem água, um céu sem pássaros ou nuvens, um jardim sem flores, um olhar sem brilho? Eu nunca fui uma pessoa silenciosa, mas quer saber? O silencio baixou sobre mim, anulou os ruídos animados e otimistas da minha esperança. Já faz algum tempo e até agora eu não consegui ressuscitar a minha alma que sempre foi movida a você.

Do que a gente vai brincar hoje? O que você quer que eu leia pra você desta vez? O que a gente vai aprontar de novo nesse natal? Vamos fazer um doce bem suculento e comer só nós duas, escondido? Vamos sair e olhar todas as vitrines que tiver na cidade? Vamos rir?

A vida com você nunca foi silenciosa, chata, monótona. Cada dia era uma surpresa diferente, um sabor melhor. Mesmo com todas as dificuldades e com todos os sonhos mais básicos que a gente tinha pra realizar, como comprar um sofá bem gorducho e pintar as paredes de cor-de-rosa. Havia uma motivação tão forte na sua presença, uma energia que nunca mais nós vamos achar igual.

Acho que Deus não me entendeu muito bem, mãe. Eu pedia por mudanças, por transformações na minha vida, mas todas elas incluíam você, em todas eu só me via junto com você. Mas aí, sei lá, o céu se revoltou e mudou tudo mesmo, só que de um jeito cruel. Foi a pior mudança que eu já vivenciei até hoje e agora eu não consigo me recuperar. Eu tenho feito tudo o que posso, e tenho acompanhado o movimento frenético do mundo; tenho sobrevivido e até cumprido com algumas obrigações, e tenho sentido amor por tudo e todos, no máximo que eu posso, mas aqui dentro ainda está escuro e frio, e eu tô sozinha... tão sozinha! Sem você por perto é assim, sempre foi: solidão pura. Porque você me compreendia mesmo, alimentava o meu coração com tudo o que ele precisava, a minha alma com o calor que só você transmitia.

Essa superficialidade me mata! Eu gosto das coisas mais profundas, mais intensas! Eu nasci pra viver em dupla com você, na nossa sintonia perfeita, no nosso amor sobrenatural. Somos mãe e filha, e sabe-se lá há quantas encarnações é assim, mas com você eu sentia que realizava o sonho de viver um lindo romance. Nós nos fazíamos tão felizes... você me fez tão feliz!

E agora, mãe? Há mais de um ano eu me pergunto isso diariamente: E AGORA? Onde, ou em quem, eu vou encontrar motivações tão verdadeiras, detalhes tão reais pra ser feliz daquele jeito. Não tínhamos nada e éramos felizes!

Sabe, mãe, depois que você se foi muitas coisas foram se transformando dentro de mim, eu descobri muita coisa boa pra mim, eu aprendi coisas importantíssimas numa velocidade incrível; conquistei algumas coisas também e até conquistei uma certa segurança íntima que tem me mantido em pé. Surgiram algumas missões também, e até que bem interessantes, embora custosas, difíceis. Talvez eu esteja aprendendo a encarar a vida com a frieza que ela merece, só que admito: eu não sou uma pessoa fria e não gosto de gente fria. Mas há situações que treinam nosso olhar, nossas ilusões. Paciência, amor, servidão têm sido alguns dos maiores desafios que tenho passado, e as vezes me desespero, mas ainda assim em silêncio. A gente se esforça tanto pelas vidas ao nosso redor, luta tanto contra o tempo, mesmo sabendo que no final ele sempre vence e engole tudo o que a gente fez com tanto custo, com tanto sentimento. Ele vem, engole nosso trabalho, nosso sacrifício, e pior, tudo o que a gente mais ama.

Mas não é por isso que deixamos de tentar adiá-lo, não é mesmo? Afinal, sempre vale a pena, mesmo que seja só um dia a mais, uma hora a mais, um minuto a mais. Um olhar a mais, um sorriso ou uma palavra a mais, até mesmo um simples gesto a mais fazem valer a pena. É, no final, mesmo que o tempo vença sobre nossos esforços, somos nós que ficamos com o melhor dessa história toda: a nossa história. O tempo não deve nem imaginar o gosto que tem um abraço de mãe, um beijo, um cafuné, uma presença tão maravilhosa como a sua sempre foi e sempre será pra mim.

Valeu a pena cada dia, cada risada, cada lágrima, cada momento que eu dediquei a você. E que bom que eu tive a inspiração celestial de dedicar o máximo de tempo que eu pude a você. De dedicar-te meu sonho de amor, tudo o que eu sou, pois hoje é o que mais me dá orgulho e força pra continuar vivendo, mesmo em meio a esse silêncio ensurdecedor.

Te amo, alma gêmea.

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Feliz Natal! Feliz Ano-Novo!


sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Lugares




Já passei por alguns lugares (não muitos, ainda), observei certas diferenças e me assustei com alguns extremos causados pelas particularidades regionais. Mas quando eu penso nos tantos lugares do mundo, me lembro com carinho do meu.


O lugar perfeito pra mim precisa ter espaço. Nunca me imaginei presa em um apartamento, por exemplo, e também nunca me preocupei com o barulho por causa dos vizinhos. Tenho vizinhos em volta, sim, mas é longe o bastante para que músicas, berros, brigas e bagunças fossem praticadas com total liberdade. Além disso, o lugar perfeito, em minha concepção, precisa ter muito verde, ar geladinho e sossego para poder largar a porta aberta o dia inteiro, sem preocupação.


Fui criada num lugar assim e o defino como o meu “Pedacinho de céu”. É simples, sem luxo nenhum, e precisa, até agora, de muitos ajustes ainda, mas quando penso nele, o vejo de uma maneira especial. Quando penso na minha casa eu lembro da rua de terra (de terra até hoje), do portão em frente a linha do trem. Lembro de quando eu era pequena e adorava quando chovia forte, porque assim formavam-se várias poças d’água naqueles buracos da terra vermelha onde eu nadava como se fossem represas maravilhosas. E eu pegava aquela lama, passava no corpo todo e ficava lá esticada, no meio da rua, em cima dos montes de terra até empedrar. As pessoas passavam e cada uma demonstrava uma reação diferente: espanto, curiosidade, diversão, dúvida. Ainda bem que criança pode tudo.


Só agora eu consigo ver o quanto meus pais foram generosos comigo. Eles podiam ser chatos, ranzinzas, medrosos, mas não... eles me deixavam aprontar das minhas em paz, e isso me fez muito bem. Depois, quando eu chegava toda enlameada, era motivo de piadas pra eles. O melhor dessa festa era o banho de mangueira que meu pai me dava, que era pra tirar o grosso da lama que grudou em mim e na minha roupa. Aquilo tinha um gosto diferente.


Também não consigo esquecer das vezes em que meus primos e primas que viviam mais perto da Capital iam nos visitar. Aquela turma pegava fogo! Naquele terreno grande nos espalhávamos e brincávamos de guerrinha de lama. Puxa, a noite caía e nós continuávamos ali, como que forçando para que o dia não acabasse mais. Levei muitas bolas de lama nos olhos e nos ouvidos... inesquecível! Entre brigas e defesas, choros e risadas, estávamos unidos por um mesmo propósito: brincar, brincar, brincar! E depois, íamos todos para o banho de mangueira de meu pai, na maior ansiedade, no maior prazer.


Minha mãe só brigava quando eu fugia. Tinha mania de sair cedo de casa e brincar na rua com aquele monte de crianças que havia em volta e só chegava tarde da noite. Ela ficava gritando lá do terraço, mas eu não ouvia (em algumas ocasiões eu só fingia que não ouvia), e quando chegava, depois que o sol já tinha se recolhido, levava broncas e petelecos e nunca entendia porque passar o dia brincando na rua era algo tão ruim. Agora eu sei, né...rs.


E por falar em gritos, os da minha mãe eram famosos. Professora né, tinha um gogó poderoso. Ela mal saía da porta, só soltava um berro e o Bairro todo sabia quem era, e estava me procurando. As vezes dava até pra sentir, pelo berro, se ela estava brava ou não. Quando eu fiquei mais mocinha (não muito, mas já adolescente), ia passear na pracinha, que fica do outro lado da linha do trem, porém ainda em frente à minha rua, pra paquerar e até namorar escondido. Como era ainda novinha, minha mãe não me deixava namorar, mas eu sempre fui precoce e com 13 anos já dava os meus beijinhos...rs.


Um dia, sentada na pracinha ao lado do meu então namorado, mão com mão, aquele frio na barriga característico e até muita vergonha (tinha vergonha sim, mas não tinha medo...rs), estávamos naquele galanteio todo (afinal, aquele tipo de namoro resumia-se a beijinhos rápidos e discretos, já que era escondido e cheio de medo) quando ele me perguntou a que horas eu tinha que ir embora. Eu, não querendo pagar mico na frente dele né, disse que não tinha hora. Pá! Foi eu acabar a frase já ouvi o berro de minha mãe: “AaaaaaaLlllliiiiiiiiiizzzzzzzzzzzzzzz”, lá do terraço de casa. Ai que vergonha! A praça inteira ouviu e virou-se pra mim, sem dizer que ele olhou com aquela cara de “ah tá... não tem hora pra ir embora, né?”. Hoje eu dou muita risada disso (minhas amigas e irmã também...rs), mas na época foi humilhante, terrível, destruidor!


Cheguei em casa e falei pra minha mãe que esses gritos dela acabavam com a minha vida social. Ela ria muito, sabia o quanto eu estava sendo boba. Ela dizia assim: “quando você crescer, vai lembrar dessas convencionices bobas em que acredita agora e vai sentir tanta vergonha, mas tanta vergonha!”. É verdade mesmo...rs. Como adolescentes são bocós! Ahahahahahahaha...


Eu tenho muito orgulho por ter sido criada como fui, naquela simplicidade toda, numa cidade do interior, ser uma típica caipirinha mesmo. Além da liberdade, do sossego, do espaço, há um Q de pureza típico desses lugares que inundam a alma da gente mesmo depois que somos adultos.


Mesmo sendo ambientes perfeitos para a fofoca, a maledicência e todas essas coisas próprias de cidades pequenas, foi lá que eu aprendi a sentir as diferentes variações de terra, a admirar o céu muito limpo, as estrelas sempre visíveis, os cachorros vira latas e os gatos coloridos, a apanhar fruta no pé, subir em árvores, ver de perto diferentes espécies de animais, aprender com as curas alternativas praticadas pelos antigos, balancear as crenças dos velhos com as mudanças trazidas pelos novos, ouvir o som dos sotaques, pular cercas de arame farpado e me estrepar toda nelas, a ficar esperando pelos apitos dos maquinistas que sempre davam tchauzinhos às crianças na beira da linha, ir a pé para a escola, deitar na grama, rolar na lama, colher na horta e no pomar, ver flores desabrocharem, enfim... crescer conforme a vida simples ia acontecendo.

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Nós existimos

Nós existimos, e não somos esse plural que dizem sermos. Somos universos muito particulares, escondidos, tímidos, modestos. Modestos demais para a importância que temos diante desse mundo, que até parece perdido, mas não, não é tanto assim. A individualidade, sempre tão recriminada, é o que guarda o que há de mais rico no ser-não-ser humano.


Quem se queixa de não ser nada na vida é aquele que ignora completamente o ódio e o amor que exerceu sobre as pessoas à sua volta. É aquele que não deu importância alguma às próprias ações, por mais pequeninas que tenham sido. É aquele que não viu frondosa a pequena semente que um dia se deu ao trabalho de depositar na terra.


Mesmo que não tenhamos descoberto a cura para uma doença, uma mina de ouro ou de petróleo, a chave que desvendasse um mistério há muito encantado, descobrimos e fomos descobertos diversas vezes no que reduzimos chamando de dia-a-dia. Você já parou pra pensar no efeito que teve, pelo menos uma vez, na vida daqueles que conviveram com você?


Ser importante é exatamente isso: ser amado, ser querido, ser lembrado, ser valorizado, ser evocado, ser necessário para alguém. E nós sempre somos – e isso independente do número de pessoas que contabilizamos nessas condições. Sim, cada um de nós, do nosso jeito, nas nossas limitações e no eterno processo de formação a que estamos sujeitos, fazemos história.


A repercussão dessa história pode ser grande ou pequena. Mas uma coisa é certa: não importa o alcance, a nossa presença e o jeito que escolhemos viver teve ou ainda terá um grande impacto na vida de alguém. Isso é suficiente para atestarmos, finalmente, as linhas de autoria exclusiva que deixamos no livro da existência. Nós existimos e merecemos valorizar isso. Cada influência exercida mudou, de alguma forma, o curso das coisas que se refletem no mundo.


Nós somos o corpo dentro da casa. Um corpo que tem um jeito único de expressão, que faz barulho, que chega e sai, que arruma e desarruma e que faz falta quando não está. Somos o som de voz que nunca poderá ser copiado, a reação que nunca será igual a outra, a alegria e a tristeza sentidas de formas distintas e muito particulares. Nós somos a companhia de alguém, o porto seguro de outro, o exemplo ou o anti-exemplo de outrem. Somos indispensáveis no contexto que montamos nesse planeta aqui.


A sua história e a minha, e a história de cada um desses personagens insubstituíveis que vão desenhando a vida e promovendo a mudança nos mundos ,tem que ser contada. E se possível, da forma mais minimalista possível. Tudo o que é só nosso, esse universo infinito que cada um representa, tem muito valor. Nós sempre existiremos para aqueles que nos conheceram por dentro.


É preciso olhar para os universos que temos ao nosso redor e descrevê-los! Desbravar esse mundo incrível é descobrimos a nós mesmos. É imortalizar.