terça-feira, 5 de abril de 2011

Amor. História. Eternidade.



Meus dias têm sido de orações. Rezas íntimas, particulares, em minha alma. Rezas mudas, ocultas. Daqui de fora não se vê e nem se ouve nada, nem sequer se nota. É por dentro. Na confusão dos meus sentidos, no mar de dúvidas sobre a vida e a existência, nas súplicas que nascem disso. Mesmo flutuando sobre a Terra e alguma dessas dimensões misteriosas, mesmo sem sentir-me completamente de um lado ou de outro, continuo orando internamente. Por mim, pela vida que segue frenética e da qual não tenho o menor controle, pelas pessoas que amo – principalmente por elas. Por quem está aqui comigo, nessa mesma aflição de incertezas, nesse medo da solidão e na eterna busca que nos divide entre desejos mundanos e intuitos maiores. E rezo, principalmente, pelos pedaços de mim que se desprenderam e agora habitam outras dimensões. Esses que povoam meu coração de saudade e mesmo sem estarem mais ao alcance de minhas limitadas possibilidades humanas, ainda inundam de esperança minha alma. Pessoas que, ao serem chamadas pelo outro lado, levaram junto deles boa parte do que sou e dos recursos que me davam mais sustentação. Sem elas aqui por perto fiquei mais desabitada, deslocada em minha casa, em meu próprio corpo. 

Mas o legado deixado por elas é imenso e forte demais para que eu desanime nessa caminhada. Jamais poderia ignorá-lo em nome do meu sofrimento. Essas pessoas que me prepararam para a vida, me ensinaram com inestimáveis exemplos a ser forte e a superar até mesmo os maiores desafios, as maiores tristezas, mesmo faltando pedaços importantes de mim. Elas me fizeram valente e feliz, e essa fortaleza habita minha alma machucada pela saudade e pela solidão, porém ainda disposta a honrá-los. Elas plantaram em mim o amor e ele é mais poderoso do que o tempo, do que a morte. É o que nos liga por toda a eternidade, onde quer que estejamos. E é essa certeza que me mantém em pé, honrando esse legado deixado por meus amados de herança: a mais valiosa que poderiam ter deixado.

Isso tudo constrói a minha história. Um dia irei reencontrá-los. Mas até lá há muito o que fazer para alcançá-los, para estar digna de ocupar o mesmo lar que eles, pois não tenho dúvida de que lhes foi reservado um bom lugar. Então eu sigo, redescobrindo minha força dia a dia para continuar escrevendo essa história, que é minha e deles, o que torna ainda maior minha responsabilidade. É a junção e a soma de todos esses seres que vivem e que viveram comigo. Vou me construindo como pessoa, crescendo como espírito, certa de que abandonada não fui e nunca serei. Nem por Deus, nem pelos Anjos do céu, nem pelos que me restam, e muito menos por aqueles que já estavam aqui quando cheguei e que sempre estarão à minha frente no tempo e na sabedoria. 

Graças a tudo o que acredito, carrego a certeza de eternidade. A minha, claro, como ser em constante evolução, e a de todos que amo, como seres de luz que a vida me deu de presente para que consiga cumprir essa missão que é se fazer existir.

É essa a oração de minha alma, que acontece em silêncio, porém ininterruptamente. É a minha fé na continuidade da vida e na imortalidade do espírito que me ajuda a seguir, mesmo dentro desta casa vazia e tendo de despedir-me com tanta freqüência de quem me é fundamental.

Crer é o que há de mais valioso nessa arte de sobreviver. E se eu possuo esse tesouro agora, é graças à família que tenho e nos propósitos de Deus para a nossa alma. E sou grata a esse gigantismo celestial que nos permite recomeçar tantas e quantas vezes outros ciclos se fechem.

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