sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Dois anos


Sigo contabilizando o tempo, colecionando as datas.

Nem tudo tem sido vago e sem sentido, mas quando eu penso nesses dois anos, só consigo enxergar o vazio.

Durante todo esse período, que parece tanto na saudade e tão curto na dor, tenho escalado com coragem o buraco que ficou, e tenho seguido da forma mais serena que eu posso. Mas o dom da serenidade não é meu, sou reles aprendiz. Um dia faço a lição direitinho, mas no outro esqueço, erro tudo. E assim vou juntando os dias e dias e dias e dias...

O que os últimos pesadelos estão tentando me dizer? Será que está tudo bem com você? Tenho te dado muitos desgostos? Enquanto eu preciso mergulhar na memória pra poder te ver e dormir pra poder te sentir novamente, você tem uma visão tão ampla de mim – bem mais ampla do que eu gostaria.

Eu nem ligo pra hoje, essa data em que uma saudade irremediável completa dois anos. Ligo, isso sim, para cada um desses dias que foram passando e deram origem a essa data. Ligo para cada segundo em que eu precisei da sua presença e me frustrei com a falta de opções. Ligo é para todas as vezes em que pego o celular, num desespero inconsciente, pra falar com você, pra tirar dúvidas, pra sentir proteção. Há dias em que a minha condição atual se apaga completamente da memória e eu realmente acredito que nada disso aconteceu.

Um dia, alguém me falou sobre perdas definitivas. Eu sempre soube que era definitiva, mas doeu tanto ouvir essa constatação! Pra isso não há remédio, não há solução, socorro, alternativa.

E eu continuo me preocupando tanto com você! É tão ruim não ter certeza de onde, como está, se precisa que eu faça algo por você ou se esse meu amor desmedido te causa alguma dor. É ele quem me faz brigar com a vida as vezes, a me revoltar com o ciclo natural que jamais aceitarei.

Há dois anos espero você voltar, acredita? Há dois anos finjo que isso vai passar.

Mas você deixou a poesia, o romance. Nós duas, de tão amigas, de tão unidas, de tão cúmplices, de tão feitas uma para a outra... de tão mãe e filha, construímos uma história de amor que nem a vida e seu ranço podem apagar. E foi isso que me ajudou a ficar em pé, nesses longos dois anos: o perfume permanente da fantasia que só nós duas, juntas, criamos. E eu sou movida à fantasia, você sabe.

Só que a minha poesia nunca mais foi a mesma sem você por perto. Tive de crescer, e crescer as vezes é tão cruel! Nessa falta de versos, construo orações, intermináveis orações: por mim, por você, por todos os nossos. Pela eternidade da alma, em nome da esperança de um dia, em alguma dimensão, calar esse choro do meu coração carente de você, deitada no seu colo de mãe.


Um comentário:

Marcos Vinicius Gomes disse...

Um belo texto, profundo e sensível sobre alguém que te foi e continuará sendo importante.... Parabéns!